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Morreu o russo que salvou o mundo do apocalipse nuclear

Morreu o russo que salvou o mundo do apocalipse nuclear

Responsável pelo Sistema de Vigilância de Mísseis na União Soviética durante a Guerra Fria, Stanislav Petrov recebeu um alerta de ataque, mas decidiu reportá-lo como falso. A sua decisão pode ter evitado a Terceira Guerra Mundial.

O oficial soviético que impediu uma crise nuclear entre os EUA e a URSS e a possível Terceira Guerra Mundial na década de 1980 morreu silenciosamente. Stanislav Petrov tinha 77 anos e nunca se considerou um herói, embora tenha contribuído decisivamente para impedir uma catástrofe – ou o fim da Humanidade.

“Estava no lugar certo à hora certa”. É assim que Stanislav Petrov descreve a sua proeza, à frente do Sistema de Vigilância Nuclear da União Soviética em 1983 – que, provavelmente, salvou o mundo da Terceira Guerra Mundial.

Responsável por reportar qualquer ataque ou possibilidade de ataque dos Estados Unidos à União Soviética no auge da Guerra Fria, durante a década de 1980, Stanislav Petrov recebeu um alerta que teria desesperado qualquer pessoa na sua situação.

Naquele dia, a certa altura, o Sistema de Vigilância Nuclear deu um alerta para um ataque de mísseis, vindo dos Estados Unidos, em direcção à União Soviética.

Ao ver o alerta, Petrov deveria reportá-lo aos seus superiores, que lançariam uma retaliação ao ataque – o que provavelmente teria dado início a uma guerra nuclear mundial.

Mas o militar soviético desconfiou da validade do alerta e tomou uma decisão que pode ter mudado a história da humanidade. “Olhei para a minha equipa e percebi que eles estavam a entrar em pânico”. Mesmo com 50% de hipóteses de estar errado, Sanislav Petrov decidiu reportar o ataque como falso.

Petrov era o único oficial presente naquele dia que tinha educação civil. Todos os outros eram soldados profissionais, e provavelmente teriam simplesmente relatado o ataque. Os homens à sua volta tinham sido “ensinados a dar e obedecer a ordens”.

Por sorte, Petrov desobedeceu às suas instruções, porque simplesmente algo não parecia certo. “Se os americanos tivessem mesmo decidido lançar um primeiro ataque, teriam enviado mais de cinco mísseis“, contou Petrov, que também acreditava que, como o sistema de alerta era relativamente novo, um falso alarme era mais provável.

Se Petrov estivesse errado, teria comprometido a capacidade da União Soviética de retaliar contra um ataque nuclear. Se estivesse certo, a Terceira Guerra Mundial seria evitada.

E Stanislav Petrov estava certo.

“Não acho que tenha feito algo extraordinário, era apenas um homem a fazer o seu trabalho de forma correcta”, contou Petrov em 2013 à BBC. “Não fiz nada de heróico, só estava no lugar certo, na hora certa”.

Mais tarde, veio a saber-se que o que o sistema de alerta soviético tinha considerado como um “lançamento de mísseis” norte americano era luz solar reflectida pelas nuvens.

A acção de Petrov, no entanto, não recebeu elogios dos seus superiores, e o militar foi mesmo repreendido por não ter preenchido um relatório. “Os meus superiores estavam a ser culpados pelas falhas do sistema, e não queriam reconhecer que alguém abaixo na cadeia de comando tinha feito alguma coisa bem feita”, contou.

Durante mais de 10 anos, o incidente foi mantido em segredo como altamente classificado. Mesmo Raisa, a mulher de Petrov, que morreu em 1997, nunca soube nada do papel que o marido tinha desempenhado a evitar a guerra nuclear.

Mas em 1998, o comandante de Petrov, Coronel Yury Votintsev, contou a história da acção silenciosa do seu oficial a Karl Schumacher, um activista político alemão, uma das primeiras pessoas a divulgar a história de Petrov, no fim da década de 1990.

Em 2012, Petrov foi homenageado com o Prémio Alemão de Imprensa, também concedido a Nelson Mandela, ao Dalai Lama e a Kofi Annan. O documentário “O homem que salvou o mundo” (Peter Anthony, 2014), com Kevin Costner, foi baseado na vida do militar russo.

A 7 de setembro, Karl Schumacher telefonou para Petrov para lhe desejar um feliz aniversário. Mas, em vez disso, soube pelo filho, Dmitry, que o oficial tinha morrido a 19 de maio, em casa – tão silenciosamente como tinha salvo o Mundo, num dia de 1983.

Fonte: // Sputnik News